Outro Filho Autista: Deus nos Ensina a Não Temer Autismo na Família
Ter um filho autista ou com qualquer outra deficiência é algo desafiante. Assim, decidir ter outro filho que pode ter a mesma condição amedronta muitos casais. Nesse sentido, Deus me dá a Palavra de que, seja qual for a decisão que se for tomar, o nosso amor deve ser maior do que o nosso medo.
“Pais, não exaspereis vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e na doutrina do Senhor.” (Ef 6,4)
Testemunho Pessoal: Autismo na Minha Família
Tenho um filho de dois anos e sete meses. Até um ano de idade ele crescia como qualquer outro bebê. Entretanto, de repente, passou a não mais atender pelo nome. Então, minha esposa e eu fomos observando outros sinais, até decidirmos consultar um neurologista.
Hoje, o Luís está sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar para se fechar um diagnóstico formal. Contudo, todos nós já sabemos: nosso pequeno é autista.
Mas isso não impediu minha esposa e eu de gerarmos mais uma criança. A princesa Miriam vai nascer em breve e nós estamos prontos para acolhe-la. Quais limitações e potências ela tem? Não sabemos. Mas isso não importa, porque o nosso amor por ela é maior do que o nosso medo.
Por Qual Motivo Você Não Quer Outro Filho?
Veja esta citação do Catecismo da Igreja Católica:
“Por razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. ” (Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 2368)
Ou seja, a Igreja entende que os casais podem sim ter razões justas para evitar ter filhos. Dessa maneira, cabe aos cônjuges analisar a sua própria situação e discernirem, de forma justa, se estão ou não em condições de conceber outra vida.
De fato, eu não estou escrevendo esse artigo para dizer que você deve ter outro filho. No entanto, sempre é conveniente uma boa reflexão sobre as nossas próprias motivações.
Por exemplo: será que uma pessoa autista ou com qualquer outra deficiência tem menos direito de vir ao mundo? Você diria sim à uma nova gestação se tivesse certeza de que seu próximo filho seria saudável? Enfim, vou tentar partilhar uma série de pontos que iluminaram a minha decisão de ter mais filhos. Certamente isso vai ajudar alguém a se libertar do medo para decidir com amor.
O Mais Provável é que o Seu Próximo Filho Não Tenha Autismo
A ciência comprova: casais que já conceberam um filho autista, infelizmente, têm, em média, 20% de chances de gerarem outra criança com autismo. Todos haveremos de concordar que não é nada confortável ouvir algo assim.
Por outro lado, a gente não precisa focar tanto nesses 20%. Temos de considerar também que temos em média 80% de chance de que nosso próximo filho não tenha autismo. Ou seja, é quatro vezes mais provável que a criança que vai nascer não tenha essa condição.
Acolho Meu Filho Seja Como For
Toda vida é valiosa. Cada criança tem o direito de ser acolhida por seus pais incondicionalmente. A dignidade da pessoa humana independe do que ela pode ou não produzir.
A princípio, se nós entendermos essas coisas, chegaremos à conclusão de que não é justo negar a existência a uma pessoa só porque ela pode ser autista ou ter qualquer outra deficiência.
Então, eu posso até decidir ter outro filho, mas que não seja porque espero que ele me dê muito orgulho por ser bem-sucedido. Também, eu posso até decidir não ter outro filho, mas que não seja porque eu imagino que ele vai me dar muito trabalho por ser autista.
A ciência já evoluiu muito
Decerto, quando o tema é autismo, a medicina está cada vez mais avançada. Neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, cientistas da computação e profissionais de outras diversas áreas trabalham todos os dias para aperfeiçoar o tratamento de autismo em crianças e adultos.
Entretanto, há alguns anos atrás não se tinha muitas ferramentas disponíveis para alavancar o desenvolvimento de pessoas autistas. Porém, hoje, a situação é bem diferente. O acesso ao tratamento está bem mais popularizado. Vale dizer também que os próprios pais conseguem encontrar um vasto material na internet e em livros. Assim, eles podem absorver informações preciosas e participar ativamente do processo de superação dos seus filhos.
A Sociedade Está Mais Consciente
A sociedade como um todo tem evoluído nas questões de inclusão de autistas. Inclusive, a dica é que você procure na sua cidade por grupos e associações focados no assunto. Caso não existam grupos assim perto de você, procure participar via redes sociais. O importante é não estar só. Seja como for, conviver com outros pais que têm crianças autistas é algo que nos fortalece muito.
Por exemplo, aqui em Fortaleza existe a associação Pintando o Sete Azul. No último dia 07/04/2019, eles organizaram uma caminhada de conscientização sobre o autismo. Eu mesmo participei e testemunho que foi um momento emocionante. Veja essa fotos:
Nessa caminhada, pude ver concretamente que minha esposa e eu não estamos sozinhos. Pelo contrário, há diversas ações sociais e políticas em prol das pessoas com autismo. Inclusive, tive a inspiração de escrever esse artigo durante a caminhada, pois me senti chamado a também dar a minha contribuição.
Seu filho autista pode fazer a diferença nesse mundo
Ser autista é ser diferente, mas isso não quer dizer que pessoas assim não tenham nenhum potencial. Aliás, uma pessoa autista não é apenas um autista. O autismo não define ninguém, mas sim é apenas um aspecto de todo aquele ser humano.
Não é raro encontrar autistas inteligentes e extremamente capazes dentro de uma determinada área que lhe desperte interesse. Desse modo, descubra o potencial do seu filho e invista nele. Ou seja, exatamente como deve ser com qualquer outra criança. E não duvide: ele poderá dar contribuições que mudarão esse mundo.
Quer exemplos de autistas que deixaram a sua marca na história da humanidade? Pois eu vou citar três:
Albert Einstein, um grande gênio da Física, criador da famosa teoria da relatividade;
Ludwig Van Beethoven, que foi um dos musicistas mais influentes e respeitados de todos os tempos;
Lionel Messi, esse é uma figura da atualidade, considerado por muitos como um dos melhores jogadores do mundo.
Meus pais não querem outra pessoa parecida comigo
Sem dúvida, crianças são espertas e capazes de perceber o que é realmente importante para nós. Não adianta falar que Deus é o maior de todos se no domingo a família deixa de participar da Santa Missa por conta de um simples passeio na praia.
Da mesma forma, também não vai adiantar nada a gente dizer para ao nosso filho autista que ele é bem-vindo se ele perceber que a maior razão dele não ter um irmãozinho é a possibilidade de que venha outra criança autista.
Não precisa nem dizer que uma situação assim pode causar feridas profundas em nossos pequenos. Sem falar que os próprios pais podem se sentir mal depois de analisarem o fato de outro ângulo.
Deus ama o seu filho autista
Deus nos ama. Não importa se somos brancos ou negros, ricos ou pobres, pequenos ou grandes. Não importa nem sequer o tamanho de nossos pecados. Incondicionalmente, Deus nos ama.
Não é diferente com o seu filho autista. Também não será diferente com o seu próximo filho. Deus ama as suas crianças, seja lá como elas são. Por conta desse amor, Deus não apenas guardar os caminhos delas, mas Ele as deseja. Sim. Saiba: Deus quer chamar os seus filhos de filhos dele.
Ciente dessas coisas, percebemos como uma vida humana tem valor para Deus. Se Ele permite alguma dificuldade, é apenas para colhermos um bem maior. Por exemplo: quantos pais de crianças autistas não precisam do seu testemunho para aceitar e acolher seus próprios filhos? Assim, a cada bom exemplo, esse mundo está se tornando um lugar cada vez melhor para as pessoas autistas.
Chegando ao fim, espero mesmo que a minha breve partilha possa ter ajudado você a se livrar do medo para decidir com amor. Sim, pois, não tem jeito: a grandiosa decisão de ter um filho não pode partir de outro lugar, apenas do coração.
Fica também o convite para que você leia o nosso artigo de título “10 Motivos para Construir uma Família Numerosa”.
Santa Maria, tu que eis a Mãe de Deus, ajuda-nos com o nosso sim. Vem nos lembrar que é justo que muito curte o que muito vale. Dai-nos um coração livre para amar, para nos doar para o outro, mesmo que doa, mesmo que tenhamos de perder tudo para ter um grande tesouro.
Por Márcio Martins
REFERÊNCIAS:
Amei ler seu texto… queria achar um acolhimento melhor na Fé católica a autista… hoje cada vez mais se fala do autismo em si, há ate cursos para igrejas mas não vejo nenhuma atuação, conhecimento e acolhimento aos autistas somente que esta aberta a igreja… mas precisamos mais que isso, tanto os autistas como sua família…
Amo minha fé mas sinto tanta falta desse acolhimento, pelo menos onde vivo :,(
Bom dia, minha irmã. É uma pena que você esteja se sentindo assim. A ideia que me vem ao coração é a de que, se nós não temos um grupo assim na nossa paróquia, nós mesmos podemos tentar organizar um. Por exemplo, você pode encontrar outras famílias de autistas e marcar um Santo Terço. Não precisa ser nada muito complicado. Comece com um pequeno louvor, reza-se o Terço, medita-se uma passagem Bíblica e, no final, se partilha os avanços e as dificuldades dos filhos, as novidades de ofertas de tratamentos e o que mais for preciso. O que você acha? Deus abençoe a sua iniciativa.
Esse texto ajudará outras pessoas… Lindo texto… Bem escrito, bem fundamentado, verdadeiro, de fé, … Gostei bastante! Parabéns pela iniciativa do site!
Marcos, que Deus o abençoe. Nossa Senhora nunca vai deixar o meio da sua família.
TB gostaria de ter mais contato com outras famílias que vivem a nossa realidade, tem fases que são tão difíceis que não consigo nem orar sozinha, acredito que em grupo estaríamos mais fortes, trocando experiência e orando juntos p compreender o que nossos filhos precisam, como podemos ajudá-los.
Concordo. Em grupo poderiamos ser mais fortes.